Os principes cortejam as princesas e as aldeãs, os pierrôs pedem em dança as damas antigas... Vejo um polícia ser recusado por uma vampira e esta a iniciar uma dança com um vampiro.
Olho em volta. Todos de máscaras douradas...
Gosto de ver os pares a dançar, todos a formarem casais, todos a combinarem, mas não pensei nisso quando vesti este traje para aqui vir. Aqui não há combinação que possa ser feita com o meu fato. Não há par que combine.
A natureza existe em mim, faz-me sentir em paz e por isso visto-me com esta roupa, como uma fada da natureza, como uma ninfa.
No meio de toda a música e de toda a dança sinto-me sozinha. Sinto a tua falta. Faltas tu aqui para combinares comigo, faltas tu aqui para dançar comigo, para seres o meu par.
Também não sei se me reconhecerias ou me escolherias para ser teu par. Eu sei que te reconheceria.
Convidam-me para dançar. Aceito. Num mero gesto de boa educação. Danço com um bombeiro que não combina comigo. Que jamais combinaria. Mas danço com ele.
Todos aqui dançam. Ninguém fica parado, ninguém fica sem dançar.
Porém enquanto a minha dança, a minha atenção percorre toda a sala. Olho à minha volta, para os sorrisos, para os olhares deitados através das máscaras, para os que dançam, para os que conversam, para os que cortejam. Até que vejo algo que me prende o olhar. Alguem em pé encostado a uma parede a olhar fixamente para mim.
Não distingo o disfarce do indivíduo, pois não tem explicação. É uma mistura de creatura do além, com um anjo dos céus. Não sei que nome dar aquilo. Tal como o meu traje. A combinação.
Deixo o meu 'par' apressadamente com um pedido de desculpas e corro até aquele que me cativou. Usa igualmente uma máscara dourada, tal como todos aqui, mas tudo o resto nele difere dos outros presentes. Páro à sua frente. Olho-o fixamente.
Ficamos parados por momentos, como que presos ao tempo, congelados, apenas a olhar um para o outro. Reconheco os olhos por detrás da máscara. Reconheco a boca que esboça um ligeiro sorriso. Mas não me pedes em dança nem que escolhes para teu par.
Viro costas e sigo até à varanda do salão. O ar fresco percorre o meu corpo e faz as folhas do meu disfarce oscilarem e uma borboleta pousa no meu ombro. Gosto da natureza.
Chegas ao pé de mim e dizes-me ao ouvido: "Reconheci-te."
Depois vais embora como uma sombra e eu fico assim, entorpecida pelas tuas palavras, atordoada pelo seu significado, e desiludida por não ter tido confiança de que isso acontecesse. Fazias a combinaçao perfeita. Nós os dois, o único verdadeiro par daquele baile.
Vou embora, pois a minha permanência no meio de toda a música e alegria é agora inútil.
Pelo caminho passo pelo parque, para poder sentir a frescura da noite e os barulhos da natureza de que tanto gosto.
Com esta aparência fico camuflada com a natureza. Ficamos como irmãs.
Páro. Oiço passos. Viro-me e olho em volta. Lá estás tu novamente. No centro do parque à minha espera. Mas...como sabias que eu viria?
Vou ter contigo. Realmente ficamos bem no meio da natureza. Combinamos. Abraças-me. sinto o teu calor.
Começas a dançar. E eu sigo-te, embalada pela música da natureza e pela tua dança.
Como pude pensar que não me escolherias...que não me reconhecerias...
Páro a dança. Olho-te nos olhos. Parecem ainda mais brilhantes vistos através da máscara e no brilhante da lua. Tiro-te a máscara. Acaricio-te a face. E beijo-te.
Além de qualquer escolha. Além de qualquer reconhecimento. Amo-te.
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